Trecho do livro Carma, de Traleg Kyabgon
Outra questão fundamental na visão do Buda sobre o carma é a intenção. Ações cármicas estão intimamente relacionadas com a nossa intencionalidade. Apesar de “carma” literalmente significar ação, não é apenas a ação em si que tem relevância. A intenção com a qual os atos são realizados é, na verdade, mais importante do que a ação em si. Pode-se ver isso claramente, por exemplo, em muitas ofensas desencorajadas nos termos quase jurídicos da linguagem do Vinaya, regras de conduta para monges e monjas. No caso, as ações são julgadas claramente em relação às intenções do ator, o que é muito diferente das muitas filosofias hindus do tempo de Buda. Os adeptos do Jainismo, por exemplo, promoveram a ideia de ahimsa, que significa “não causar danos”. Eles usam (até hoje) máscaras faciais para evitar que um inseto infeliz voe para dentro de suas bocas e andam com os pés descalços para evitar pisar em formigas no chão. Não o fazem para se proteger dos insetos, mas sim para proteger os insetos do ser humano. Pode-se descrever a ideologia por trás desse tipo de ação como carma sem intenção, pois não haveria nenhuma intenção considerada nesses atos. Mas, de acordo com o Jainismo, a intenção de matar não faz diferença, porque o ato é o mesmo — a intenção não tem relação com a consequência. O Buda pensou o contrário, e colocou um peso maior na intenção. Agir com ignorância não tem o mesmo efeito da ação realizada com intenção. Junto com essa lógica vêm ideias relacionadas à intenção: o grau de deliberação com o qual se faz alguma coisa, o grau de planejamento e premeditação. O Buda foi muito claro quanto à importância desses fatores e muitos estudiosos ocidentais, de fato, o elogiaram por ter trazido essa contribuição para o tema.
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