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Chitta é coração ou mente?
[...] o termo bodhichitta pode ser traduzido como “coração desperto” ou “mente iluminada”. Isso ocorre porque a palavra sânscrita chitta é usada de várias maneiras, algumas das quais se traduzem melhor em inglês como “mente”, outras como “coração”. Ao longo desse livro, tendo a me referir à transmissão em termos da introdução à verdadeira natureza da mente; a maioria dos tradutores faz isso. Temos aqui outro exemplo de como a ambiguidade em um termo sânscrito ou tibetano permite uma alternância entre os diferentes sentidos daquilo que em inglês seria traduzido como “coração” ou “mente”, ou ambos. Uma vez que o tradutor tenha escolhido um ou outro, ele fixa o significado de uma forma que não está fixada no original.
É uma pena que ao falar constantemente sobre a verdadeira natureza da mente, o leitor ocidental perca a noção de que tudo se refere ao coração. Tanto em inglês quanto em português, coração automaticamente indica amor e compaixão. Isso se relaciona naturalmente com a ideia de um coração puro ser um coração sábio, honesto e bom, confiante e digno de confiança. Todas essas conotações se perdem se nos referirmos apenas à natureza da mente. Um dos efeitos disso é que o budismo como um todo começa a soar como uma ciência sobre cognição e conhecimento. Há uma tendência de procurar a mente na cabeça e no cérebro, e supor que os cientistas saberão mais sobre ela do que nós pela nossa experiência. Apesar dessa desvantagem, tendo a continuar usando a expressão “indicar a verdadeira natureza da mente”, sabendo muito bem que os tibetanos fazem um gesto apontando para o peito, enquanto os ocidentais tendem a apontar para algum lugar em torno da cabeça. Os tibetanos vão automaticamente associar isso à amor, compaixão, fé e devoção, enquanto os ocidentais precisam continuar se lembrando de que o coração é a chave para compreender a “natureza da mente” neste contexto.