Três tipos de fé no lama
Um trecho do livro "Música no céu", de Michele Martin, sobre S.S. 17º Karmapa
Lamas genuínos não serão de benefício a não ser que haja discípulos apropriados que, depois de examinar cuidadosamente as qualidades do lama, passam a confiar nele. Os discípulos, então, deveriam ter três tipos de fé no lama. Fé confiante, ou confiança, significa que, ao seguir o lama, nós confiamos que não seremos enganados por ele; e mais, nós sentimos, ao confiar neste lama, que não haverá nada que não possamos fazer. Fé inspirada significa que, quando nós encontramos o lama, ficamos naturalmente felizes e, por meio dessa alegria, a fé surge em nós. Fé ardente refere-se ao desejo, para nós e para os outros, de sermos livres do samsara e de alcançar o nirvana. Somos levados a tomar refúgio por uma apreciação de quão profundos são os objetos de refúgio e, em consequência, essa fé ardente continua a surgir e a nos inspirar enquanto trilhamos o caminho. Além dos três tipos de fé, os discípulos qualificados também precisam ter compaixão, que é o desejo de que todos os seres vivos sejam livres do sofrimento e de suas causas. Vendo que eles estão presos nas profundezas do sofrimento, a compaixão do praticante anseia em libertá-los. Todas essas qualidades de fé mais a compaixão tornam um discípulo digno de méritos.
Uma outra maneira de descrever um bom discípulo é pela metáfora do vaso apropriado. O néctar dos deuses, por exemplo, pode ser maravilhoso em si, mas para permanecer o que é, o néctar tem que ser derramado dentro de um vaso que esteja livre das três falhas. O vaso poderia estar invertido e, dessa maneira, nada poderia entrar; poderia ter rachaduras que fariam com que o conteúdo vazasse; poderia não estar limpo, poluindo o que fosse derramado dentro dele. O que é preciso é que haja um vaso que esteja em pé sem rachaduras ou poluentes. Um discípulo que tem os três tipos de fé, que tem compaixão e que está livre dessas três falhas é considerado um vaso apropriado. Aqui, no caso do discípulo, o adorno é a devoção genuína, que significa que o discípulo pensa no lama como um buddha. Então, o relacionamento ideal discípulo-mestre é entre um lama genuíno que possui todas as qualidades necessárias e um discípulo merecedor que tem fé, compaixão e a capacidade de reter e praticar os ensinamentos.