Descobrindo a mente-do-macaco
Um trecho do livro Transformando confusão em clareza
Iniciantes em meditação geralmente relatam que, no momento em que sentam, a mente acelera e transborda com ainda mais pensamentos do que o habitual. Isso é resultado do encontro com a mente-do-macaco, aquela que fala incontrolavelmente e devaneia aqui e acolá. Ao abordar a meditação, nossa expectativa é que a nossa mente se torne calma e serena, mas quando nos sentamos para meditar é como se tivéssemos acabado de beber um café expresso. A mente parece voar para dezenas de direções diferentes, da comida para a fama, para ganhar na loteria, para comprar um carro vistoso e para comer um hambúrguer orgânico. Parece até um passeio na montanha-russa – desenfreado, maluco e talvez até um pouco assustador. Na verdade isso é um bom sinal, porque a mente-do-macaco sempre atua dessa maneira naturalmente cafeinada e meio alvoroçada. Esse é o seu hábito. Nós é que nunca percebemos isso antes.
Se deixarmos um macaco entrar na bela sala de um templo, em poucos minutos a sofisticada seda chinesa será destruída, as tigelas de água serão atiradas ao chão, as almofadas rasgadas e tudo ficará de pernas para o ar, enquanto o macaco pula de um objeto ao outro. Essa pode não ser uma imagem muito bonita, mas é como a nossa mente tende a funcionar – nunca descansa, vai de um objeto a outro, bagunçando as coisas e correndo daqui para lá. Quando nos dedicamos atentamente ao trabalho físico ou mental, como quando construímos uma casa, nos preparamos para um exame ou fazemos nosso imposto de renda, guardamos o macaco atrás da porta. Porém, se temos muito tempo livre, o macaco geralmente assume o controle.
Ouvi falar sobre um homem que ficou preso em uma solitária durante anos e que acabou sendo liberado depois que novos testes de DNA provaram sua inocência. E o que ele disse sobre estar sozinho em uma cela foi: “Ter só a si mesmo como companhia é a pior companhia que alguém poderia querer.” Essa fala expressa a angústia de uma mente que se tortura, sem o alívio das distrações externas – e muito menos da meditação.
O macaco não suporta ficar sem trabalho, portanto, para se manter ocupado, ele mantém a mente girando. Digamos que no final do mês você descubra que seu extrato bancário difere dos seus cálculos em um dólar. O macaco fica tão feliz! Convence-o a pesquisar todos os extratos e a rastrear onde ocorreu o erro. Uma vez resolvido o problema, logo surge outro.
Em entrevistas particulares, ouço as pessoas falarem de problemas entre seus familiares, parceiros e empregadores. Ao serem ouvidos, os problemas parecem muito pequenos. Mas se pensarmos sobre eles repetidas vezes, ficam cada vez maiores. Fazer uma tempestade em copo d’água é a especialidade do símio. Essa é a natureza da irrequieta mente-do-macaco.
Geralmente não observamos a mente e, por isso, esse encontro com o macaco pode ser confuso. Mas, na verdade, estamos começando a reconhecer a consciência plena e todos os pensamentos, sentimentos e impulsos que estão constantemente passando por ela. Se as pessoas vêm fazer meditação a fim de se livrar dos pensamentos, esse encontro com a mente-do-macaco pode ser desanimador. Mas não precisamos nos livrar dela. Ignorar essa fábrica de pensamento nunca funciona e suprimi-la é impossível. Mas podemos fazer amizade com ela. Como? Ficando perto dela, sem sermos agressivos. Não tentamos vencer ou controlar nosso novo amigo. Se quisermos conhecer suas qualidades, precisamos estar presentes para esse encontro. Quando começamos a meditar, não importa o estilo ou tradição que sigamos, certamente vamos encontrar o macaco. Porém, com a meditação da consciência plena, damos ao símio um serviço construtivo para fazer.